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Autocrítica

Atualizado: 15 de fev. de 2023


Ao ato de um indivíduo reconhecer as suas qualidades e defeitos, os erros e acertos de suas ações, dá-se o nome de autocrítica. Esta é muito importante para melhorarmos a nós mesmos, o nosso círculo íntimo e o convívio social na totalidade.

Ao se falar de gêneros musicais e sobretudo aquilo que se é difundido, talvez não haja um gênero, que nos últimos anos tenha se dividido tanto devido à autocrítica de grande parte de seu público como o Heavy Metal. Isso, claro, sem me ater às suas subdivisões, tratando-o de uma maneira geral.

Sejam opiniões sobre crenças religiosas em alguns subgêneros, a misoginia, o racismo, a homofobia ou a xenofobia por parte de alguns personagens, sempre surgem conflitos através de posições colocadas sob juízo de valor.

As redes sociais serviram para unir nichos e isso já não restam dúvidas. Apesar da constante massificação sobre o indivíduo, o que é omisso pelos veículos de comunicação, muito por culpa do estilo de vida consumista, é a necessidade de pertencimento, trazendo o espírito de grupo que, por sua vez, criam-se nichos. Não necessariamente o participante de um grupo não possa pertencer a outro. Isso é comum em nossa vida, como a vida de um João que participa de um grupo de futebol nos Domingos, mas na segunda-feira, volta ao trabalho com seus colegas em outro ambiente. Isso é normal e já existe há muito tempo.

Ultimamente, têm-se preocupado muito com manifestações depreciativas de “roqueiros” e/ou “headbangers” com respeito a gêneros musicais mais populares do nosso país. Parte da ala que constantemente busca a importante autocrítica, para que este gênero não sucumba no fundo de um armário cheio de naftalina, incomoda-se e até se exacerba com as personagens que destilam seu ódio arraigado.

Mas é importante ressaltar aqui os acontecimentos de finais da década de 1970 e inícios da década de 1980, onde o que chamavam de New Wave passou a dominar os veículos propulsores do entretenimento do lado de lá do Atlântico. Punks e headbangers levantaram suas bandeiras em oposição ao gênero vigente daquele mercado. No lado de cá do “Mar de Atlas”, atacavam a Disco Music, que dominava o cenário musical com folga. É importante ressaltar isso, para que não façamos uma autocrítica, imbuídos de lapsos históricos, sem confrontos de gerações e se deixando levar pelo imediatismo midiático.

Logo, é mais que normal vermos roqueiros e headbangers depreciarem um gênero – ou gêneros – musical que está em evidência, porque essa sempre foi a conduta dos seus seguidores. O que se deve fazer é se policiar quanto à forma de manifestação pública depreciativa. E aí entramos em outro probleminha.

Na minha pura e banal Heurística da Disponibilidade, costumo dizer que só há dois tipos de roqueiros/headbangers: o com grana e o sem grana. Esses dois grupos nunca estiveram tão próximos quando do advento das redes sociais. Engana-se aquele que lê isso, sentindo cheiro de confronto de classes. Pera lá com a dor, porque o santo é de barro.

Esses dois grupos vivem dinâmicas diferentes, vidas diferentes, obtém retornos diferentes. Enfim, normal na vida social. Não vou entrar em questões mais profundas, porque quero aqui alertar que há “motivos diferentes, em diferentes grupos, para se depreciar determinada subcultura”. Tampouco, gostaria de ser interpretado como um facilitador do ódio, já que o que proponho é uma reflexão acerca da generalização que parte da galera autora de autocríticas vem incorrendo em inexatidão.

A primeira pergunta que se deve fazer é: “por que o roqueiro com grana odeia tanto tal gênero musical na segurança do seu lar?”

A segunda pergunta é: “por que o roqueiro sem grana odeia tanto tal gênero musical na instabilidade da sua vida?”






Chegaríamos a respostas, senão ligeiramente diferentes, bastante discrepantes. Logo, faríamos a terceira pergunta: por que esses dois roqueiros passaram a odiar tal gênero sob a mesma égide, se no início as justificativas diferiam?

Para tentar chegar lá, gostaria de trazer alguns números, fornecidos pelo Gerenciador de Anúncios do Facebook. Faixas etárias diferentes foram utilizadas para buscarmos algumas conclusões. A pesquisa foi feita levando como locais de amostras, regiões totalmente discrepantes.

Primeiro foram retiradas amostras dos seguintes bairros da cidade do Rio de Janeiro: Bangu, Senador Camará, Santíssimo, Senador Vasconcelos, Campo Grande, Inhoaíba, Paciência e Santa Cruz. Em seguida, as amostras foram retiradas dos seguintes bairros: Botafogo, Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico e Barra da Tijuca. Levou-se em conta, a disparidade econômica entre as duas regiões.

Foram utilizados mecanismos para buscar a tolerância entre roqueiros/headbangers com respeito aos gêneros musicais em evidência e o oposto, ou seja, seguidores dos gêneros musicais em evidência, com respeito ao Rock/Heavy Metal. As faixas etárias foram divididas em três: a primeira de 14 a 26 anos, a segunda de 27 a 40 anos e a terceira de 41 a 50 anos.

Utilizou-se as tags para se chegar a um número total de seguidores e, em seguida, tags no campo de exclusão, representando seguidores que de maneira alguma procurariam por determinado gênero o qual não siga.

Região:

Bangu, Senador Camara, Santíssimo, Senador Vasconcelos, Campo Grande, Inhoaíba, Paciência e Santa Cruz


Jovens de 14 a 26 anos


Heavy Metal + Rock = 100.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 9.100 pessoas. (9,1%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 200.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 45.000 pessoas. (22,5%)


De 27 a 40 anos


Heavy Metal + Rock = 120.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 13.000 pessoas. (10,8%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 230.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 48.000 pessoas. (20,8%)


De 41 a 50 anos


Heavy Metal + Rock = 51.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 7.600 pessoas. (14,9%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 100.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 22.000 pessoas. (22%)


Total

Heavy Metal + Rock = 271.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 29.700 pessoas. (10,95%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 530.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 115.000 pessoas. (21,69%)


Região:

Botafogo, Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico e Barra da Tijuca


Jovens de 14 a 26 anos


Heavy Metal + Rock = 29K

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 3.500 pessoas. (12%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 49.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 11.000 pessoas. (22,44%)


De 27 a 40 anos


Heavy Metal + Rock = 47.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 7.400 pessoas. (15,7%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 80.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 18.000 pessoas. (22,5%)


De 41 a 50 anos


Heavy Metal + Rock = 23.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 5.300 pessoas. (23%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 36.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 7.800 pessoas. (21,6%)


Total


Heavy Metal + Rock = 99.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 16.200 pessoas. (16,36%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 165.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 36.800 pessoas. (22,3%)



Total Geral

Heavy Metal + Rock = 370.000 pessoas.

Heavy Metal + Rock – Funk – Eletrofunk – Sertanejo Universitário – Pagode – Gospel = 45.900 pessoas. (12,4%)


Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel = 695.000 pessoas.

Funk + Eletrofunk + Sertanejo Universitário + Pagode + Gospel – Heavy Metal – Rock = 151.800 pessoas. (21,84%)


Os números não mentem. Percebemos então, que a intolerância dos seguidores de música de massa para com o Rock/Heavy Metal é maior que a de roqueiros/headbangers para com as músicas de massa, considerando as regiões onde as amostras foram retiradas.

É relevante ressaltar a uniformização com que os veículos segmentados do Rock/Heavy Metal e outros da música em geral vêm difundindo sobre o seguidor do gênero em questão. Não é raro vermos matérias explorando conteúdos em que, constantemente, citam atos de intolerância partindo de roqueiros/headbangers com respeito a outras subculturas, como se isso fosse a regra. Em contrapartida, não vemos matérias semelhantes expondo a intolerância de adoradores de gêneros musicais de massa com respeito ao Rock/Heavy Metal.

Há dois prováveis motivos para isso. O primeiro, e óbvio, é que os autores de tais matérias envergam-se de cientistas de gabinete, não extraindo suas análises in loco, no entanto, divagando suas explanações apenas através de juízo de valor. O segundo motivo tem mais a ver com os veículos segmentados do que com os próprios roqueiros/headbangers. Não há veículo originário dos gêneros que compõem a música de massa, que despenda tanto tempo em falar de Rock/Heavy Metal, em detrimentos destes veículos, que empregam demasiada energia em rebuscar conteúdos dirigidos a outros gêneros, mesmo com tantos artistas novos surgindo e trabalhando para e pelo gênero. Tudo em prol da difusão de seus sites e revistas, já que, disseminar conteúdos de artistas sem relevância midiática não traz tanto retorno.

Isso traz consequências em seus seguidores. Como funkeiros, pagodeiros, sertanejos e etc, não são alimentados constantemente por conteúdos que não lhes interessam, a probabilidade de vermos esses seguidores destilando ódio ao Rock/Heavy Metal pelas redes sociais é muito pequena, diferente do que ocorre na rua, no dia-a-dia, ao vivo. Vale lembrar da chuva de críticas negativas que o artista Luan Santana recebeu de seu próprio público, quando fez a brincadeira de dizer a seguinte citação em seu Instagram: “Tem uma hora que a gente sente algo aqui dentro e precisa mudar, arriscar e adivinhem? Essa hora chegou. Por isso, decidi que a partir de hoje vou me dedicar de corpo e alma ao estilo que eu realmente amo, o heavy metal”. Posteriormente veio a público para desfazer a confusão.

Contudo, embora possamos sugerir o alcance potencial daqueles que de maneira nenhuma querem receber conteúdos musicais que não lhes interessam, ainda necessitaríamos ir mais a fundo no que tange a quantidade de integrantes que reverberam seus ódios com respeito aos gêneros musicais de massa, já que há uma larga diferença entre “não gostar” e “odiar”. Presume-se que a porcentagem cairia significativamente. Logo, embora o corpo de odiadores seja ínfimo em comparação à totalidade de roqueiros/headbangers, parece que a difusão deles é conveniente àqueles que comandam os veículos, visto que a promoção de “tretas” é um negócio rentável neste mundo virtual.


Um adendo.

Um morador – que não citarei o nome por questões de privacidade do próprio – da primeira região de amostra, sofre problemas constantes devido ao hábito, costume ou prática de moradores locais com equipamentos de som, extrapolando decibéis em homenagem a seja lá o que querem dizer. Este morador fez inúmeras reclamações com o proprietário dos equipamentos, fez reclamações com a prefeitura e demais autoridades, porém não obteve resultado. Ele não pode trabalhar em Home Office, porque não há horário para que o som comece a reverberar em suas paredes e vidraças. Para os que não vivem na periferia, isso faz parte do costume, fração do que podemos inserir como cultura.

“Incomodado que se mude!”. Mais uma citação curiosa, que eu gostaria de refletir com vocês. A sociedade vive em constante interdependência. Precisamos da consciência de que, sem o outro, não conseguiremos a plenitude dos objetivos. É assim na família, é assim na vizinhança, é assim em uma nação, é assim no mundo. Apesar de vivermos uma instauração midiática de atmosfera polarizada, não podemos esquecer jamais que, sem interdependência, nunca os objetivos serão concretizados em sua plenitude. Logo, esse papo de “Incomodado que se mude” traz duas variantes: A primeira é a estagnação daquele meio, que não consegue respeitar o conceito de interdependência; a segunda é a possível perda de um membro, com ônus total para este, devido justamente à falta de empatia.

“É só não dar atenção!” Mais uma citação que ignora completamente a complexidade mental do ser humano. Também é curioso ouvir tanto esta sentença em uma época em que se tanto fala sobre Depressão. A mente humana não é uma caixa de ferramentas aberta a todos, onde todos possam pegar o que se quer de olhos vendados. Logo, citações simplistas, carentes de empatia e, sobretudo, de Ciência, só alargam a defasagem do convívio social.


Cuidado com os generalismos. As aversões precisam ser entendidas para aperfeiçoarmos o nosso convívio social, para compreendermos e mudarmos paradigmas, ainda que o autor de agressões verbais seja intransigente, precisamos entender cada particularidade e, assim, fragmentarmos esse globo de ódio que se tornou uno. Sem o entendimento das particularidades e suas junções como partes de grupo, como tão bem Michel Maffesoli deixa claro em sua obra “O Tempo Das Tribos: O Declínio do Individualismo nas Sociedades de Massa”, não atingiremos a maturidade necessária para lidarmos com os problemas sociais.


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