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Suculência?

Atualizado: 15 de fev. de 2023

“Você gosta de jiló?”

“Não!”

“Já comeu?”

“Não!”

“Então por que você não gosta?”

“Sei lá! A cara não me agrada!”


Quando trabalhei numa rede de Fast-Food, um dos coordenadores gerais explicou o porquê das fotos dos mostradores não representarem fielmente os sanduíches em realidade:

“Suculência!

A pessoa precisa sentir a vontade de consumir o sanduíche, apenas no olhar!”

E aqui eu gostaria de expor uma reflexão a respeito de algumas matérias que criticaram exposições de personalidades da música brasileira, com respeito ao Rock e Metal no Brasil e a figura do preto.

Das matérias que você pode se abastecer pela rede, a maioria possui pontos em comum a se destacar: o primeiro deles é a rebuscada de conceitos primários do Rock para enfatizar a figura do preto no gênero e, consequentemente, no Metal.

E o outro ponto é o afastamento desses autores para com o gênero.





O primeiro ponto é importante, mas é frágil. Como já dissertei em outras linhas, apegar-se nas figuras das origens do Rock para impor respeito a figura do preto no Rock e, sobretudo no Metal, não é forte o suficiente para se causar argumento. Hoje, isso chega a me irritar. Já disse em conversas pessoais, que isso por si só não fará com que a grande mídia passe a procurar bandas de Metal compostas por pretos e massificar como informação para, talvez, os Medinas se compadecerem e colocar em um palco qualquer dos seus eventos. Não cola. E por que não cola?

Não cola porque a imagem presente do gênero não deduz isso.

Vou tentar passar a minha reflexão adiante.

O outro ponto soa estranho na minha cabeça. Há cerca de 20 anos, eu entrei em um grupo de Canto Coral. A primeira aula explicou sobre o conceito de música, onde uma frase do meu professor Fernando José era constante: “Música é a junção de ritmo, harmonia e melodia”. Independente da mensagem que se está passando - e isso é perigoso - a música é composta primariamente por estes três elementos.

No Rock e no Metal, há artistas com seus mais variados conceitos. Há artistas e bandas que trabalham nas mais diversas temáticas. Logo, se um indivíduo curte o gênero composto por determinado ritmo, melodia e harmonia, não se evadiria pela letra que o gênero propõe, pura e simplesmente, porque este dispõe de subgêneros e bandas com temáticas tão vastas, que certamente ele encontraria o ponto onde se descansar.

Dê uma olhada no título do texto novamente e na descrição que fiz logo após. Suculência.

Tanto o primeiro ponto, quanto o segundo - e aqui gostaria da sua exposição - indicam que a estética passou por cima da filosofia da coisa. Isso não existe apenas no meio do Rock e Metal, mas em tudo aquilo que se prega ou se combate algo. Ué? Pensou que militância no Metal é coisa de esquerdista? O Metal milita desde que nasceu. Milita contra igreja, milita contra “posers”, milita contra isso, contra aquilo, contra aquilo outro. E isso é natural de qualquer grupo que se caracteriza como movimento.

No entanto, como também já mostrado em outras linhas, há uma força que precisa segmentar um produto para que ele dê certeza de venda. E esta força se chama Mercado. Com ele, tudo se molda da maneira que alguém quer, se entrega aquilo que se quer.

Há alguns dias, o Preto no Metal publicou em seu Instagram e Facebook, um print de Chaene Fernando da Gama, que dizia:

“Se os jovens de outrora como eu gostavam de Rock como forma de ir contra os Pais (nossa rebelde), e hoje em dia nós somos os progenitores(as) “roqueiros”, o que nosso filhos(as), o que nossos filhos(as) vão ouvir para nos irritar ou ir contra nós??? kkkkkkkkk Dissertem. Obs: Minhas meninas ouvem de tudo (quase), principalmente os “rockão” uai.”


Eu gostaria de chamar a atenção para os comentários nas duas redes sociais. E chamar para refletir sobre o futuro do Rock/Metal. Felizmente, poucos comentários relataram sobre o fato de as crianças ouvirem o que os pais escutam, já que, segundo a pesquisa da Deezer, o Brasil, com 85%, é o país em que mais possuem pais que incentivam os filhos a gostarem do mesmo estilo de música que o deles. Ora, se “os Rock” que os pais escutam, que os pais chamam de “clássico”, suas bandas preferidas e etc, não possui figuras pretas, como esses filhos integrarão a figura? Gera um círculo vicioso.

A mão do mercado leva outro revés, se nos embasarmos pela referida pesquisa. Se ele estereotipa o Rock como algo branco - visto nitidamente em propagandas, ou uma simples pesquisa no Google Imagens - e tal gênero como algo preto, esses pais já estão inseridos neste propósito e, consequentemente, seus filhos também estarão.

E voltamos ao título do texto mais uma vez. Como atrair novos adeptos pretos para o Metal, se eles não conseguem se ver inseridos naquilo, numa época em que associação estética parece mais forte como nunca entre os mais jovens? Utilizar de embasamento histórico é válido, é legal, mas não funciona para o hoje, dentro deste assunto. Desassociar-se do gênero, por pura questão estética também não faz sentido, levando-se em conta a capacidade cognitiva. Os veículos alternativos, os coletivos, os canais independentes são a única maneira válida de mostrar que há sim, e muitos, pretos no Metal e tentar mudar essa história.


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