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Valores

Atualizado: 15 de fev. de 2023

É inegável a influência do Marketing na forma como nós vemos o mundo. As percepções daquilo que não conhecemos chegam-nos através de veículos midiáticos e experiências culturais que, em suma, são amplamente influenciadas pela propaganda. Daí, tem-se aquela velha frase: “Nossa! Na TV era muito diferente.”

Mas vamos de pesquisa, porque no fim, o que importa são números.

Um diagnóstico feito pela Heads, em parceria com a ONU Mulheres, intitulado “TODXS – Uma análise da representatividade na publicidade brasileira”, mapeia motivos suficientes para endossar que a publicidade no Brasil não reflete o padrão natural da sociedade brasileira.

A pesquisa traz dados relevantes em suas 7 ondas.




Apesar do lento e instável avanço há que se refletir sobre o que há na mente do consumidor como um todo. O negro (segundo o IBGE, pretos e pardos) não representa a maioria dos papéis importantes nas peças publicitárias, apesar de representar 54% da população brasileira. O Marketing, na totalidade, molda costumes, induz consumo, leva a sensação de pertencimento para o espectador/consumidor.

É importante refletir sobre os estereótipos e, como disse Bárbara Ferreira, gerente de planejamento da Heads, “Quando a pessoa recebe 5 mil mensagens por dia, ela não tem condições de refletir sobre todas essas mensagens. A publicidade interfere na maneira como percebemos o que é bonito, feio, sobre nossa própria realidade e sobre como a julgamos”. Pois bem!

O Mestre em comunicação e cultura da Universidade de São Paulo, Carlos Augusto Marins, destaca que a imagem do negro na publicidade está ligada a estereótipos arcaicos, como o trabalhador braçal, o atleta ou a negra sexualizada. Segundo ele, essa visão teve origem no século XIX, época em que o negro aparecia publicitariamente sendo vendido como mercadoria ou em anúncios de fuga. Ainda destaca: “Nos últimos anos, é possível notar uma diminuição da publicidade ligada a tais estereótipos, o que não significa que a imagem do negro passou a ser valorizada. Em larga medida, nos anúncios em que o negro não aparece estereotipado, acaba tendo uma imagem meramente neutra”.

Partindo para a visão subjetiva, quando eu era mais jovem, cheguei a abandonar TV por alguns anos e, toda vez que alguém me perguntava se eu havia visto determinado programa, retrucava com “Não vejo TV. A programação faz parecer que vivo na Suécia”. A expressão do outro era de um riso sem graça.

Quando nós trazemos para o nosso meio, o do famoso “Rock”, a coisa complica mais, como já relatei no último texto. Vemos, por exemplo, fotos atreladas ao maior evento de Rock da América Latina. Faça você este exercício e escreva aí no Google Images “Roqueiro Rock In Rio” e deguste o resultado. O Marketing mostra inconscientemente onde você pode ou não pode pisar, ou será bem quisto, ou não. E é claro, há sempre uns “teimosos desgarrados que ignoram tais regrinhas”.

Não encaro o Dia da Consciência Negra como um dia de festa. Este dia deveria servir como reflexão justamente para aqueles que não procuram equilibrar a balança. Para aqueles que mantém no imaginário da sociedade que o negro é marginal ou trabalhador braçal, que tem um estilo de vida próprio, costumes próprios, etc. Como se o negro não tivesse subjetividade.

A professora de publicidade da Universidade de São Paulo, Clotilde Perez, deixa uma citação interessante acerca: “O negro é ainda legi-signo dele próprio e não 'do humano'. Ele é representante do humano, mas apenas de um tipo de humano: o humano negro”. Ela ainda afirma: “A publicidade no Brasil é um caminho privilegiado para esta conquista, mas 'insiste' em não assumir esse papel”

Mudar a imagem do preto no Brasil não depende apenas da população consumidora. No dia 20 de Novembro aparecem revistas e TVs com programações especiais, em uma romântica tentativa de dizer: “Vejam! Nós estamos com vocês!” Desse jeito. Uma data que, enquanto os veículos não trabalharem todo dia em prol da equidade, só significará uma breve homenagem com a face da separação.

A sociedade como um todo deve cobrar e os negros – pretos e pardos – devem cobrar incansavelmente a cada dia.







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